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Incêndios destroem setenta e um por cento da biomassa da floresta amazônica em apenas duas ocorrências

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Foto: Fábio Bispo/InfoAmazonia

Incêndios recorrentes transformam a estrutura física, a diversidade e a composição das espécies, ameaçando colapsar a floresta

As florestas tropicais do mundo desempenham um papel essencial na regulação climática do planeta, armazenando cerca de 460 bilhões de toneladas de carbono, o equivalente a quase metade do estoque terrestre total. No entanto, as queimadas cada vez mais intensas estão alterando esse cenário. Um estudo recente, publicado na revista científica Environmental Research Letters, revela o impacto do fogo na estrutura da floresta e alerta para o risco iminente de colapso, com consequências que se estendem além do âmbito local.

Realizado por uma equipe de cientistas de cinco instituições, o estudo revela que a biomassa acima do solo sofreu uma redução de 44% em áreas da floresta amazônica que foram queimadas uma vez, e uma perda ainda mais acentuada, de 71%, em áreas atingidas por dois incêndios consecutivos. O dossel florestal, camada superior que abriga a copa das árvores, foi especialmente afetado, registrando uma queda de 44% após o segundo incêndio, em comparação com áreas não queimadas.

A área basal – que representa a soma das áreas ocupadas pelos troncos das árvores – também apresentou um declínio expressivo. Após o primeiro incêndio, essa área diminuiu em média 27,5%, e após o segundo, a redução chegou a 53,8%. Além disso, as comunidades de plantas perderam 50% de sua diversidade após dois incêndios, com prejuízos tanto para espécies dominantes quanto para espécies raras. Com a recorrência dos incêndios, as comunidades de plantas tornaram-se cada vez mais distintas, com diferenças de até 61% nas espécies presentes após dois eventos de fogo.

Foto: Fábio Bispo/InfoAmazonia

O estudo foi realizado na Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns, localizada na região de Santarém, no leste da Amazônia. Os pesquisadores analisaram os efeitos do fogo em árvores e palmeiras em áreas que foram queimadas uma ou duas vezes, nos incêndios ocorridos em 2015 e 2017.

“A principal mensagem que queremos transmitir com este estudo é o impacto do fogo na floresta, especialmente em termos de mudanças na estrutura, como biomassa, área basal, carbono e composição florística”, destacou Ima Célia Guimarães Vieira, pesquisadora do Museu Paraense Emílio Goeldi e uma das autoras do trabalho. Ela alerta que a Amazônia enfrenta uma grande degradação causada pelo fogo, o que resulta na perda de até 71% do carbono armazenado na floresta.

O estudo também chama a atenção para as perturbações humanas na floresta, como os efeitos de borda e a extração seletiva de madeira, que abrem o dossel e facilitam a propagação dos incêndios. O fogo, por sua vez, desencadeia mais incêndios, promovendo um ciclo de degradação. Florestas em regeneração, que surgem após incêndios, frequentemente apresentam altas densidades de espécies pioneiras, que crescem rapidamente e são mais inflamáveis do que a vegetação original, tornando essas áreas mais suscetíveis a novos incêndios.

“Nossas descobertas destacam a necessidade urgente de garantir um futuro resiliente para as florestas amazônicas, com ações que apoiem os meios de subsistência locais e reduzam as fontes de ignição, permitindo a recuperação da floresta”, conclui o estudo.

A pesquisa, realizada com o apoio do Instituto Clima e Sociedade (ICS), deve continuar com a ampliação da amostragem para áreas que foram queimadas em três eventos de fogo, visando entender melhor o impacto cumulativo dos incêndios.

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